David
De: São Paulo
registrado(a): 02-02-2006
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Longevidade dos bichanos (Revista da Folha)
"Você ainda tem aquele gato?", pergunta, estupefato, um amigo do artista plástico Eduardo Srur, 31, cujo siamês, Tom, completa 20 anos no próximo dia 2.
Srur e seu amigo tinham 11 anos quando Tom, o filhote mais arisco da ninhada, foi adotado pela família. Duas décadas depois, Tom continua "inteirão", mas com um ar bem mais sereno, alguns bigodes retorcidos e o olhar cansado. "Ele nunca teve problema de saúde; só quebrou a perna uma vez e ficou engessado, quando meu irmão caiu em cima dele ao derrapar no tapete enquanto corríamos pela sala", conta. Isso faz mais de dez anos. Com a maturidade -20 anos felinos correspondem a pouco mais de 90 anos humanos-, Tom tornou-se mais tolerante (parou de morder estranhos, segundo o dono), mais "fresco" (só come o que o dono come, leia-se carne de primeira e frango desfiado) e bem mais dorminhoco -das 18 horas que um gato jovem costuma dormir, ele passou para cerca de 22, 23 horas.
Ultrapassar a barreira dos 15 anos não é para qualquer bichano. A expectativa de vida de um gato de rua é de cinco anos; de um doméstico, de dez. Segundo o "Guiness" deste ano, o gato mais velho do mundo se chama Creme Puff, ainda está vivo, mora nos Estados Unidos e tem 36 anos.
Não é absurdamente raro um gato chegar aos 30 anos. Um bicho castrado e bem tratado consegue alcançar os 20", afirma o biólogo Carlos Alberts, do laboratório de comportamento de felinos da Unesp-Assis. Com uma vantagem em relação aos cachorros: tendem a manter o aspecto jovem. "O cão é como o homem, sua aparência vai degradando com o avanço da idade, vão ficando com os pêlos brancos e envelhecidos; já os gatos não aparentam", diz. O biólogo credita isso aos alongamentos diários dos felinos e a seu hábito da autolimpeza, que contribuiriam para a manutenção da flexibilidade e da percepção por mais tempo.
Cientistas ainda procuram nos genes a explicação por que um homem vive cinco vezes mais que um gato, que vive cinco vezes mais que um rato. Por enquanto, o metabolismo leva a responsabilidade. "Animais menores dispõem de metabolismo mais acelerado. Um rato, por exemplo, tem 200 batidas cardíacas por minuto, enquanto seres humanos têm, em média, 80. No rato, o coração bate mais rápido, o consumo energético é mais acelerado; é como se o corpo se desgastasse a uma velocidade maior. Então é normal uma expectativa de vida pequena de, no máximo, cinco anos", explica o biólogo. O que ajuda animais como jacarés e jabutis a alcançar idades muito avançadas, segundo ele, é o fato de serem pecilotérmicos, ou seja, de "sangue frio". "Nesses bichos, a temperatura do corpo não é constante, muda conforme a temperatura ambiente e assim, o metabolismo é mais baixo por mais tempo, o que o desgasta menos", explica.
Em qualquer animal, sejam tartarugas, gatos ou homens, estudos recentes estabelecem que a duração da vida depende 35% de fatores genéticos e 65% de ambientais. Para Eduardo Srur, o segredo de longevidade de seu gato foi o amor que recebeu em casa, o que faz certo sentido, segundo Luciana Deschamps, veterinária da Clínica Sr. Gato. "Um ambiente favorável para uma vida longa inclui um dia-a-dia sem estresse."
O estado de estresse está diretamente ligado ao sistema imunológico; quando ele aumenta, a resistência física cai, deixando o organismo vulnerável a doenças. No gato, ele pode ser provocado pela relação com outros bichos ou com as pessoas da casa.
Velho gato
A contagem da idade felina tem uma lógica própria. Acredita-se que o primeiro ano de vida do gato corresponda a 16 anos humanos. A partir daí, calcula-se, em média, quatro anos humanos para cada ano felino. Por exemplo: um bichano de dois anos equivale a um humano de 20; três anos corresponderiam a 25. "Provavelmente esse cálculo, criado por amantes de gatos, se baseie na maturidade sexual, que é um ano para gatos e 15, em média, para seres humanos", afirma Alberts. Segundo ele, um animal com idade entre oito e nove anos já é "bem vivido" (cerca de 50 anos humanos).
As doenças mais comuns relacionadas à terceira são as do coração, de insuficiência renal crônica, tumores e problemas de visão e audição. "A castração aumenta a expectativa de vida, pois previne câncer nos órgãos reprodutores e ainda diminui o comportamento sexual, que inclui brigas, no caso dos machos, e grande quantidade de cópulas, no caso das fêmeas, o que aumenta a chance de contrair vírus e bactérias."
Para prever o futuro de um gato, é importante olhar o seu passado. Sua árvore genealógica diz muito sobre sua vida. "A característica da longevidade pode vir de família", afirma a professora-titular aposentada Mitika Hagiwara, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.
Segundo ela, vira-latas tendem a viver mais que gatos de raça. A explicação é simples: a seleção de características como cor e pelagem, que determinam o padrão de uma raça, acaba tornando esses bichos mais suscetíveis a determinados problemas, como a má-formação óssea ou a predisposição a pedras nos rins; já em relação aos SRD (sem raça definida), ocorre o contrário: a seleção é feita ao acaso e a possibilidade de um problema genético é menor, pois um gato com "defeito" não teria conseguido sobreviver. Quem manda é a velha seleção natural.
_______________________________________ ------------------------ David Esquivel ------------------------ Fidel http://www.catster.com/?231740
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